O tal do Espírito
- moniqueaayala
- 15 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de mar.

As frases “A contrologia é a completa coordenação do corpo, da mente e do espírito” e “Contrologia desenvolve um corpo uniforme, corrige posturas erradas, restaura a vitalidade física, vigora a mente, e eleva o espírito” são trechos icônicos do livro do Sr. Pilates, mas afinal, o que é esse tal de espírito? Acredito que não exista uma resposta correta para esta questão. Vai depender da interpretação de cada praticante, mas uma coisa é certa, só acha uma resposta quem pratica.
A resposta que eu encontrei foi que Joe descreveu o nosso todo como o corpo sendo a expressão física, a matéria, a mente como a parte pensante e racional e o espírito como a emocional e subconsciente.
A mente racional comanda o corpo, recebe as instruções e transforma em movimento percebendo o contato do corpo com os aparelhos, a resistência das molas, a orientação no espaço, fazendo todos os ajustes necessários para manter o equilíbrio, o ritmo e a precisão. Porém, enquanto tudo isso está acontecendo no nível racional, um turbilhão de emoções vem à tona.
Ao observar os alunos distinguimos as diferentes formas que encontram para expressar suas emoções. Alguns se mostram obcecados por controle, fazem mil perguntas (pode ser que tenham medo de se sentir vulneráveis?) e tanto perfeccionismo trava o movimento, outros tem medo de mover (quanta dor já sentiram?), alguns não conseguem seguir as instruções e se movem de qualquer jeito (talvez não consigam olhar pra dentro), outros não suportam correções (pode ser que a interpretem como críticas), tem alunos que precisam “fazer a social” (será uma fuga? A expressão de alguma carência?), tem os que dão desculpas o tempo todo quando não conseguem entender (talvez se sintam desqualificados). Exemplos é o que não falta dentro do estúdio.
Nosso corpo hoje é o resultado de experiências físicas: Como nos movemos ao longo de nossa história. Quais dificuldades tivemos para nos mover? Quais desafios aplicamos a nossos corpos? Que padrão usamos em nossa rotina? Sofremos intervenções cirúrgicas? Quebramo-nos? Sofremos entorses? Quantos vezes sentimos dores, nos machucamos? Quantos toques tivemos? Foram gentis, acolhedores, agressivos? O nosso corpo de hoje também é fruto de nossas experiências psicológicas, então podemos nos fazer todas estas mesmas perguntas e outras tantas para conseguir compreender o que somos hoje.
Vou contar uma de minhas experiências pessoais para ilustrar que não há como separar o emocional durante uma atividade física como o Pilates. Estava eu fazendo aula particular com o professor Fernando Albernaz durante uma formação com 12 participantes. Algumas vezes ele usava o recurso de colocar o pé no carro do Reformer para travá-lo. Esse recurso pode ser usado para fazer o aluno entender que em muitos exercícios é importante fechar o carro e não abrir (abrir é o que todo mundo quer, né? Abrir o carro é uma delícia. Rs) ou para dar segurança em exercícios como o Snake and Twist. Pois bem, toda vez que ele travava o carro, eu entrava em desespero e falava: Fernando, tira o pé do carro. Ele atendia na boa e passou a evitar travar o carro. Algumas formas de contato também me irritavam e comecei a perceber que não eram as que me guiavam, mas as que me travavam. Logo as outras integrantes do curso (hoje todas são queridas amigas), de forma leve, começaram a mexer comigo: "Com a Monique tem que ser “hands off”. Após alguns dias de curso ficou claro que odeio me sentir presa. Comecei a conversar sobre isso com as outras participantes e alguém perguntou se eu já fui assaltada. Lembrei que quando tinha 16 anos estava no ponto de ônibus sozinha e um cara me travou na parede, começou a dizer que era um assalto mas ao final passou a mão em mim e foi embora. Foi tudo muito rápido, eu voltei pra casa completamente abalada e após o choque inicial, nunca mais pensei sobre isso. Bloqueei o trauma. Muito provavelmente esse trauma é a razão da minha aversão a me sentir presa.
Portanto, nunca devemos julgar o aluno por suas questões, não sabemos o que se encontra por trás delas e não é o nosso papel como profissional do movimento tratar diretamente a cabeça do aluno (a não ser que ela se encontre desalinhada), mas se conseguirmos fazer com que ele mantenha o foco na aula, se ele estiver aberto e preparado terá um resultado muito mais abrangente e efetivo do apenas o físico, pois como sabemos o movimento cura.
O corpo expõe nosso espírito, ou seja, o estado da nossa energia e todas as emoções passadas e presentes. Posso garantir (uma das lições do Sr. Pilates) que o exercício físico é o aliado perfeito para mudanças profundas, mas para o resultado ser além do estético, a pessoa terá que fazer isso envolvendo todo o seu ser, trazendo tudo o que ela é para o momento presente. Corpo, mente e espírito juntos são o grande segredo do Sr. Pilates e de todas as transformações que podemos conquistar praticando seu método.

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